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Zé do Cação, o pescador de dias nublados

Tempo de leitura: 2 minutos
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Tardes nubladas são perfeitas para conversar com um pescador.

Em um domingo chuvoso, digno de alguma preguiça, decidi caminhar pela cidade sem destino certo. O calçadão da praia levava até o Forte São Matheus pra depois o alto mar. Encarei o cinza por alguns segundos até um movimento me chamar atenção. Eram três pescadores realizando tarefas importantes em meio a cascos e redes que coloriram minha tarde.

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Cheiro de peixe e perfume de história no ar, pesquei de longe. Fui até o Zé, dos três o mais animado com a visita. Logo exibiu sua banca começando pelo Cação, um tubarão em miniatura. Pensando no sabor sugeriu o Bonito que só perderia para o Camarão. Mas estávamos no defeso.
Depois de perceber meu interesse e que eu não tinha pressa, abriu um largo sorriso e contou que sabia muito bem o que eu estava fazendo.

Achei que ele tinha reparado que eu não compraria nenhum dos falecidos, mas esperei as palavras que fugiam de sua memória. Enquanto procurava, Zé batucava um samba cada vez mais forte em um casco de ponta cabeça. Depois de momentos ansiosa, ele espremeu seu rosto fechando seus olhos e gritou: Pesquisa Informática!

“É na pesquisa informática, isso que você faz Raquel, que a gente fica mais inteligente e que aprende do mundo.” Não consegui esconder o alívio nem o quanto gostei dessa nova palavra. Elogiei também sua percusão, que tinha razão para ser tão boa, o Zé é mestre de bateria em Cabo frio todo carnaval.

O segundo pescador, até então calado, se chama Carlos. Ele parou com suas tarefas pra contribuir com sua história: Foi de Cabo Frio até a Argentina, de barco, vendendo muamba. Morou em um cortiço e lá viveu os melhores anos de sua vida. Perguntei o motivo da volta, ele respondeu Saudade.

Já experimentou olhar pro horizonte da praia em um dia sem sol e falar “saudade”? Combina, e rege a vida de quem navega. Ora com saudade da areia, ora de voltar a ser capitão.

Entre tantas histórias fantásticas de pescador conheci o Guilherme, que tem a minha idade, ele não tinha o que contar por aquele se tratar de seu primeiro dia de trabalho. Quem sabe as dele possam começar assim: Em um domingo chuvoso, digno de alguma preguiça…

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Raquel Cintra Pryzant
Raquel Cintra Pryzant
Raquel Pryzant, jornalista de viagem brasileira vivendo em Barcelona.