Mas como assim sem gastar quase nada mulher? Então, eu consegui conhecer lugares incríveis do Parque Nacional da Chapada Diamantina sem gastar quase nada e você também pode. Depende do que você espera dessa aventura. Eu viajo para conhecer a cultura local e ouvir as histórias das pessoas.
Posso acabar deixando algum lugar lindo passar, mas para mim, os pontos turísticos famosos não são prioridade. Eu já encarei que o mundo é gigante e que eu nunca vou conhecer tudo. Na Chapada Diamantina principalmente, culpa do feitiço que tem lá. Mesmo sem todo o conforto nem todos os restaurantes bacanas, meu vício é seguir conhecendo, como der.
Eu fui de ônibus a partir de Salvador, fiquei em um camping de 20 reais a diária e peguei carona ou fui a pé para as trilhas e cachoeiras. A resposta mais direta de como consegui é: Fiz amigos. A gente se ajudava e dividia os gastos. Café da manhã reforçado, lanche a tarde, macarrão a noite. Às vezes a gente cozinhava e servia todo mundo. Outros dias, a gente comia sem pagar nada. Nem tudo é dinheiro e fui descobrindo isso lá.
Sei muito bem que esse tipo de viagem não é pra todo mundo. Mas sei que não tem idade nem gênero pra isso. Vai do seu ânimo e vontade de viver as coisas desse jeito que eu e outros viajantes vivemos. Vou contar agora um pouco mais da minha viagem, algumas dicas e como é possível sim, conhecer a Chapada Diamantina sem gastar quase nada.
O Parque Nacional da Chapada Diamantina fica no interior da Bahia, um dos estados mais apaixonantes do Brasil. A Bahia me deu muita fé, muita força e energia. O sol de lá foi pura vitamina e assim parti, rumo a uma mancha verde no meio do mapa seco do sertão. A Chapada é do tamanho de um pequeno país e guarda grutas, mirantes, cachoeiras, rios, trilhas e matas.
A Chapada é tão grande que nem o Seu Dai, ex-garimpeiro e dono do camping mais famoso da região assume ter conhecido tudo. O Parque é rodeado pelas cidades de Lençóis, Andaraí, Palmeiras, Mugugê, Vale do Capão e Abaíra (que também é nome de cachaça)
São duas as opções principais para chegar no Parque Nacional da Chapada Diamantina. A primeira é de ônibus, a partir da rodoviária de Salvador e a segunda é de avião, direto pra cidade de Lençóis.
Eu fui com a primeira opção, e cheguei em Palmeiras. De Palmeiras peguei uma Kombi branca, com muito mais gente do que uma Kombi poderia imaginar que levaria. Por estradinhas de terra esburacadas, cheguei no Vale do Capão.
Em Lençóis, sua viagem está garantida. Na cidade de casinhas coloridas e ruas de paralelepípedos você vai encontrar várias agências de turismo para te levar em lindas cachoeiras e grutas. Algumas vezes em fazendas, que cobram entrada.
No Vale do Pati, você vai ver as mais lindas paisagens, desde cima das chapadas verdes. Fazer trilhas entre uma vegetação única e ainda ficar na casa dos moradores, que tem muitas histórias. Para fazer seu roteiro você vai precisar de um pouco de preparo, pesquisa e equipamentos.
O Vale do Capão é um lugar que proporciona mil viagens diferentes, você que vai escolher qual a sua. Tem gente que aluga carro para chegar nas cachoeiras. Eu fui a pé ou de carona. Encontrei um amigo em Salvador, Eli. Fiz um amigo na rodoviária, Alê. E nós três, visitamos uma cachoeira diferente a cada dia. Foi uma experiência incrível para minha vida. Abri mão de tudo que era tipo de frescura durante uma semana. Ao mesmo tempo, me senti mais forte do que nunca.
Eu fui em janeiro e estava quente e úmido. A cachoeira da Fumaça estava com pouca água, achei maravilhosa da mesma forma. As paredes de pedra são tão grandes e a queda tão alta, que me senti um pedacinho de nada, como sempre.
No final da mesma semana choveu e a Fumaça voltou com seu espetáculo. Mas não existe uma época ideal para ir pra Chapada Diamantina. No começo do ano chove, depois a mata floresce. No meio do ano as águas ficam mais claras e no final volta a chover um pouco.
Um desses dias, no meio de janeiro, fui com meus amigos para o centrinho do Vale do Capão. A ideia era tomar uma simples cervejinha e dançar forró. Mas choveu tanto, tanto, que ficamos ilhados no coreto da praça por algumas belas horas. Foi meio tenso. Mas como sempre, a chuva passou. Para melhorar, nossas barracas estavam perfeitas no camping.
Palmeiras: Os ônibus que saem de Salvador desembarcam direto na rodoviária da cidade. Não recomendo se hospedar por lá, você vai ficar longe da natureza.
Lençóis: A cidade tem algumas atrações e muitas empresas de turismo que fecham pacotes de passeios. É charmosa e tem pousadas confortáveis. Ideal para quem vai com a família ou prefere um pouco mais de estrutura
Vale do Capão: Agora sim! A parada dos mochileiros. O Vale do Capão oferece diversas opções de hospedagem, a mais comum é escolher um camping. A vila reúne diferentes tribos. Esportistas, forrozeiros, malucos de estrada, fritos, artesãos, músicos, veganos, esotéricos e aqueles que estão se descobrindo. O Vale do Capão é também uma ótima saída para a travessia do Vale do Pati.
Vale do Pati: Eu não fiz a travessia, ainda. Mas você pode levar sua barraca e comida ou optar por ficar nas casas de apoio dos moradores. Mesmo pra quem está acostumado com trilhas, olhar mapas e acampar, eu diria para ir com amigos.
O Vale do Capão é uma vila bem pequena. Na praça central tem um mercado, um bar, um coreto e uma igreja. A noite toca forró, de dia tem feira orgânica e artesanatos para comprar 24 horas. Muita gente vai conhecer o Capão e acaba morando por lá. Quem consegue ir embora, um dia volta. É o que dizem.
A Cachoeira da Fumaça
A atração principal do Capão. Uma trilha longa dentro do parque que começa com subida, já te leva lá pra cima de das chapadas. Uma pedra perfeita vai te proporcionar a famosa foto, quase voando. A Cachoeira tem esse nome, pela da água que evapora e sobe como fumaça, antes de conseguir finalmente tocar o chão.
O Morro do Pai Inácio
Quem chegamos vinte minutos depois que a subida pro morro tinha fechado? Isso mesmo, os três cabeçudos. Porém, era o nosso segundo passeio do dia e só do pé do morro tivemos uma vista linda onde tiramos várias fotos engraçadas. Foi um dia muito legal.
Cachoeira do Rio Preto e Rodas
Foi só a desgraça da água ser completamente escura, sem chance visão alguma das pedras do fundo, pra dar uma vontade louca de pular. Alguém explica? A Cachoeira do Rio Preto é muito linda, ela reflete as árvores em volta e tem um fundo infinito, para um mar de montanhas. Fomos com outros grupos de amigos para lá, um pessoal do sul que falava bah e tchê.
Cachoeira da Purificação
Essa cachoeira pode não ser a mais linda da sua vida, mas ela tem uma energia diferente. Para mim, nota dez no ranking imaginário das cachoeiras, que leva em conseideração o caminho e as sensações do lugar. Fui pra Foz do Iguaçu, uma das maiores cataratas, mais gigantes, mais tudo do mundo. É de fato, linda. Mas é tanta gente, tanta muvuca que tudo que eu queria era estar sozinha ou com poucos amigos na cachoeira da Purification.
Riachinho
Fomos duas vezes no Riachinho, um amor de cachoeira. Só de lembrar começo a sorrir. As pedras rosas vão contornando pequenas piscinas, que vão ficando mais quentinhas que a piscina principal. O fundo é infinito também. O pôr do sol daquele lugar é inesquecível. Uma qualidade da Bahia em janeiro é ser quente até de noitinha. O sol estava indo embora e a gente voltou sem pressa. Não conseguimos carona de volta nesse dia. Mas com um céu de estrelas arretado fomos cantando de lá até o camping entre goles quentes de Abaíra (já falei que que é)
Conceição dos Gatos
Essa cachoeira ficava um pouco mais distante, mas fomos na caçamba de uma 4×4. Chegando lá, muita gente e a água, com uma espuma esquisita. Seguimos a trilha rumo a outro poço, pra cima da montanha. Descobrimos esse point de ficar nú, no dia em que uma companhia de circo chegou na cidade. Nosso fim de tarde com malabaristas de contato, palhaços e acrobatas sem fantasia foi em um pequeno fim do mundo.
Seu Dai é ex-garimpeiro e hoje, dono de camping. Ele nos recebeu muito bem e pegou um carinho especial por mim. Um dia voltamos de uma trilha e ele tinha consertado minha barraca, que ficou firme por uma noite inteira. Ele também me avisava quando abria uma jaca madura, e me ensinou como ele escolhia. O Dai é tradição do Capão e naquele momento, fornecia também casa para um grupo de malucos e malucas de estrada. Estavam juntos, mas viajam de carona sozinhos ou em dupla pelo Brasil. Um deles me chamou atenção, Paulo Mateus. Diferente dos colares de macramê, pulseiras de couro e anéis de cristal, Paulo fazia máscaras de ferro, braços biônicos e esculturas com partes de relógio, engrenagens, correias, motores e itens trocados no caminho. Peças que poderiam estar paradas em algum museu, mas estão por aí, rodando com ele.
Falando em arte, por todo o Vale do Capão você vai encontrar os murais do Salomão Zalcbergas. Toda casinha ou casebre original de lá tem um. A arte retrata a vida no Vale, antes do turismo, antes da televisão, antes. A cultura, a religiosidade e os costumes desta vila formada nos tempos do garimpo estão em suas paredes e muros.