Marcus Simon nasceu no Rio Grande do Sul e para infelicidade das panelas de sua mãe, já chegou batucando.
Aos onze anos já tocava bateria e aos 17, chegava na capital paulista para uma faculdade de música. Apesar de seus questionamentos na época do vestibular, descobriu que sua vocação poderia sim, se tornar seu trabalho. Hoje participa de projetos bem diferentes, mas com uma pegada comum: Misturar sons do mundo inteiro, valorizar diferentes formas de expressão e criar algo totalmente novo.
Toca nos shows de divulgação do novo disco Terra e Lua do Gabriel Levy, acordeonista do Mawaca, desde sua fundação em 95. O Mawaca é a união de um grupo vocal, com letras em mais de 20 línguas. De um grupo acústico, com acordeom, violoncelo, flauta, sax soprano e contrabaixo. E da percussão, com as tablas indianas, derbak árabe, djembé africano, berimbau, vibrafone e pandeirões do Maranhão.
Assina também o espetáculo Tchiribim Tchiribom, que reune melodias do Brasil, Nova Zelândia, China, Itália, Senegal, Egito, Israel, França, México e Japão com novas letras, para crianças. Elas foram adaptadas pelo compositor Hélio Zisking e interpretadas pela cantora Fortuna Safdie.
Seu trabalho de maior projeção foi no Xaxado Novo, um bando de músicos-pesquisadores que misturam o xaxado, baião e xote com a cultura ancestral árabe e cigana. Bruno Duarte, Marcus Simon, Davi de Freitas, Felipe Gomide e Eliezer cantam e tocam, todos, mais de um instrumento. A melodia chamada Maqam que veio do oriente, uniu-se a sanfona de oito baixos de Gonzagão. O figurino é meio caboclo, meio cangaceiro.
Os cinco se dividem entre o surdo, o violão, a zabumba, o rebab (rabeca), o davul (tambor) e o riq (pandeiro) para formar um forró arretado, inspirado em grandes nomes como Jackson do Pandeiro, Sivuca, Mestre Salustiano, Gonzaguinha, Dominguinhos, Marinês e Hermeto Pascoal.
“Eu sempre procuro tocar com músicos de diversos lugares e destinos diferentes para aprender. Porque a música, a música é muito ampla.” conta.
Marcus lembra de quando tocou o primeiro disco do Xaxado, Sertão Cigano, para milhares de pessoas no Holi Festival do Parque Ibirapuera, em São Paulo. Conta que apesar da enorme responsabilidade, não se trata da quantidade, mas sim da conexão “Já fiquei muito mais nervoso tocando para poucas pessoas. Por estarem atentas, próximas e mais integradas.”
Em 2010, Marcus esteve no Senegal, com um espetáculo de Maracatu e música pernambucana, onde pôde conhecer grupos incríveis de cultura popular de Martinica e Cabo Verde. Esse festival de música da Ilha de Gorée acontece no último entreposto de escravos da história.
“Tocar Maracatu dentro daquela antiga prisão, com uma porta que dá direto pro mar, foi muito marcante”.
Uma de suas formas preferidas de fazer suas pesquisas musicais é participar de eventos de cultura pelo Brasil como o Encontro de Culturas do Mundo em Imbassaí e o Encontro de Culturas Tradicionais do Cerrado, na Chapada dos Veadeiros.
“Não é um curso técnico, são vivências, então isso acaba influenciando na nossa formação como artista”, conta, sobre o aprender em encontros.
Conheceu, em seu último evento, Koki e Pajarín Saveendra, uma dupla de dança e música folclórica argentina. Eles o ensinaram sobre a semelhança da cultura argentina com a gaúcha brasileira sem falar uma palavra. Conta que sua família não chega a usar bombacha, mas que foi criado no chimarrão. Hoje, Marcus fala da importância de exaltar a música de cada região.
“Acredito que o trabalho de preservação e resgate à cultura pode devolver o sentido de alma para a gente, como povo brasileiro.” E completa que, com a informação muito fácil, celulares e novas relações, alguns jovens se mostram desinteressados em manter as raízes da sua família e da sua comunidade.
“Acham que isso é coisa de velho, não tem a consciência da importância de cuidar disso.”
Essa alienação vêm também de formações escolares que não dão tanta importância ou não conseguem passar que estas culturas estão vivas, comenta.
“É praticamente impossível, é inevitável, elas sofrem alteração ao longo do tempo. Mas imagina se essas tradições já tivessem terminado? Seria pior ainda, seria uma catástrofe”