Tilcara é uma vila pitoresca no norte da Argentina. A maioria dos moradores descende dos povos andinos e a outra parte é formada por porteños que deixaram Buenos Aires para abrir uma lojinha ou restaurante entre as montanhas.
Dois tipos de viajante se hospedam na cidade. Os que sobem para Machu Picchu e os que descem para Patagônia. Em Tilcara conheci uma mistura da Bolívia com a Argentina, onde os vegetais e tecidos vêm de cima e o vocabulário de baixo. Ao mesmo tempo que torci pro Boca Juniors, conheci um mini salar de Uyuni.
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Apesar de inspirações e influências, Tilcara na Argentina é um lugar único no mundo. Os povos originários que ali viviam deixaram suas marcas e lutaram bravamente contra a invasão Inca, séculos antes da invasão espanhola. A cidade tem menos de 6 mil habitantes e depois de um mês morando lá, pude conhecer do prefeito ao garçon e receber apelidos.
Entre minhas lembranças mais vívidas de Tilcara estão os cachorros correndo e as crianças no parquinho. A sensação de pagar 15 reais por um tinto de Mendoza, de acostumar os dedos fechando empanadas e de espremer os olhos quando meu chefe falava rápido demais.
Nada é melhor que a estrada passando na janela com o peso da mochila no colo. Mas eu acordei por 20 dias em Tilcara. Minha experiência meio louca da vez foi criar raízes entre montanhas coloridas argentinas a 2.500 km de casa.
Você tem três opções principais para chegar em Tilcara a partir de Buenos Aires:
Tilcara recebe viajantes o ano inteiro. Diferente do sul da Argentina, mesmo no inverno o sol aparece. Passei bastante frio a noite e calor de dia. Até me acostumar, minha pele ficou bem ressecada. O único remédio foi um tal de creme de lechuga, hidratante vendido no mercadão. Estendi minha visita até agosto, mês que não chove nem a pau. Entre novembro e dezembro Tilcara é mais úmida, ideal para visitar as Salinas Grandes e ver as nuvens refletidas nas poças d’água.
Durante o verão Tilcara recebe shows de cantores famosos e apresentações folclóricas. O “Enero tilcareño” tem até música. Niña de Tilcara, dos Intoxicados, conta a história de um cara que se apaixona por uma menina entre as montanhas. Sua banda e seus amigos de Buenos Aires o esperam de volta, mas ele promete reencontrá-la no mágico janeiro de Tilcara.
Um boneco em forma de diabo que representa o sol é desenterrado em Uquia, cidade perto de Tilcara, Argentina. A loucura é liberada com ele. A tradição e a fé se misturam nas ruas onde comparsas mascarados jogam farinha, confete e dançam o dia inteiro.
A comitiva diabólica é toda convidada para comer o quanto quiser e beber até cair nas casas dos moradores. Os dias quentes e loucos acabam com o enterro do coisa ruim. Seu funeral marca o começo de um ano de espera. Eu estive lá em julho e infelizmente não cruzei com o demo. Morri de vontate, nunca conheci um morto tão querido.
Em Junho você pode viver uma festa de Inti Raymi, que em quechua significa “festa do deus sol”. Em Huacalera, povoado a poucos kilômetros de Tilcara, a cerimônia de renovação espiritual ganha mais força. O nascer do solstício de inverno é esperado por todos os moradores, que levam mates e cobertores. Aproveite para visitar em Huacalera seu imenso monolito, onde o Trópico de Capricórnio passa.
As férias de inverno levam argentinos cansados da neve para Tilcara em Julho. Eles encontram outros viajantes do mundo e se sentem em outro país. Os hostels cheios demandam que um voluntário trabalhe a noite só para receber quem chega das Peñas Folclóricas e bares.
Apesar de temporada, dá gosto viajar pelo norte da Argentina. Um super almoço com entrada, prato típico e sobremesa pode sair o equivalente a 20 reais. Cerveja Salta por 15 e um passeio longo pela região de carro, por 50. Minha sugestão é escolher iniciativas locais para gastar seu dinheiro. Além de ter uma experiência mais autêntica, você apoia quem vive lá e preserva a região.
Agosto é o mês da Mãe Terra. Estendi minha viagem para ver com meus próprios olhos uma celebração tradicional. Não vi nada pelas ruas. Conversando entendi que teria mais sorte em Maimará, Humahuaca, Huacalera ou Purmamarca. Vi uma celebração a noite, onde nos reunimos ao redor de um morrinho. Cantamos, fizemos oferendas e me passaram um mate (tipo chimarrão). A diferença é que ele tinha outros ingredientes típicos e álcool.
Os papines são pequenas batatas típicas das sopas, guizos e cozidos dos povos andinos. Além dos papines, você encontrará tudo quanto é tipo de verdura, fruta e legume, que vêm lá da Bolívia. Além de grãos, carne de lhama, oferendas para Pachamama, folhas de coca e remédios naturais para todas as dores, do corpo e do espírito.
Tomar mates ou subir com uma garrafa de vinho, você que sabe. Os vinhos em Tilcara são muito baratos, e muito, muito bons. Mas se você escolher o mate, saiba que nossos amigos argentinos levam muito a sério seu preparo. Passo a passo do que aprendi depois de errar algumas vezes:
1-Aqueça a água a 90 graus, antes que ferva coloque na garrafa térmica.
2-Coloque a erva mate na cuia e vire-a algumas vezes na sua mão, para remover o pó.
3- Disponha a erva na diagonal e encaixe a bombilla (canudo), na parte mais baixa.
4- Sempre encha o mate ao lado da bombilla, sem molhar a parte mais alta.
5- Tome você o primeiro turno, que é quando o chá fica mais amargo
6- Quando acabar, siga enchendo e passando para todos que estiverem na roda, até que ninguém mais queira ou que a água acabe.
7- Pronto! Você foi o sevador da vez.
Wayra significa vento. Eu, Vicky e Macarena tinhamos um dia livre e muita vontade de conhecer essa caverna secreta. Não era pra gente ir sozinha, mas não era pra gente tanta coisa, que a gente cansou. Fomos. A cada passo da trilha íngreme, Tilcara ficava menor. A caverna tem saída e na outra porta, um mar de montanhas coloridas e cactos gigantes. Encontramos fósseis no caminho e outros corajosos em bando.
Em todas as esquinas de Tilcara as típicas empanadas a la parilla são servidas. Elas são feitas na brasa. Jamón e queso, albahaca, salame e carne são alguns dos sabores. As empanadas de Jujuy disputam com as de Salta o posto de “a melhor da Argentina”. As empanadas salteñas são fritas e lembram uma Fogazza.
Diferente da vida noturna em toda a Argentina, que começa em geral mais tarde que no Brasil. As Peñas Folclóricas começam a partir das 19 horas e rolam junto com o jantar. As danças típicas são ensindas desde criança por lá e eu peguei relativamente rápido a teoria do negócio. A dança é em casal, mas sempre se volta para o centro, onde todos dançam juntos. Além das cervejas nacionais como a Quilmes, a Salta e a Patagônia. A Peña Chuspita oferecia a “Me Echo la Burra” uma cerveja artesanal com o dobro de teor alcoólico.
Pucará é o nome dado a todas as fortalezas dos povos andinos, construídas com terra e pedras em cima de altas montanhas. O Pucará de Tilcara foi reconstruído e passa a quem visita, a sensação de voltar milhares de anos. A madeira de cactos gigantes, os cardones, servia de estrutura para as casas, templos e necrotérios. Os Pucarás existiram em milhares e com a invasão dos Incas e depois, dos espanhóis, a maioria foi destruída. Cada povo ao redor da cordilheira tinha sua própria cultura, idioma e sociedade que se mesclaram no decorrer do tempo.
Foram os Tilcaras, parte da população Omaguaca, que construiram o Pucará. Eles plantavam quinoa, batata e milho. Caçavam animais selvagens e criavam lhamas. O cacique dos Omaguacas, Curaca Vitipoco, liderou uma das resistências mais notáveis entre os povos Andinos. Segundo arqueólogos, os Omaguacas eram baixos, com rostos compridos e narizes pequenos. Seus tecidos, roupas de lã e arte cerâmica são reproduzidos hoje pela Quebrada de Humahuaca e norte argentino.
O Hostel Tierra Andina foi minha casa em Tilcara. Meu trabalho voluntário nesta Argentina quase Bolívia foi acordado do Brasil. Por aquelas oportunidades da vida, voei ao lado do dono do hostel, que me deu uma carona de San Salvador de Jujuy até Tilcara. A diferença de visitar ou morar em um lugar para mim, foi deixar e levar a dura saudade do conviver. Vivi dias incríveis nesse hostel. Compartilhamos jantares, celebramos aniversários e era só aumentar a música que nada nos impedia de dançar. Cada novo viajante que chegava tinha o poder de renovar a festa.
A Casa Los Molles é um hostel que fica no alto de Tilcara e dá altas festas de noite. Antes do maior evento da temporada, tive uma leve intoxicação alimentar. Me dei alta e fui. Lindo lugar, linda vista e ótima música até eu perceber que como médica, sou ótima jornalista. Voltei pro hostel no horário das crianças.
Durante minha viagem, conheci o 120, apelido para Douglas Richard, no Hostel Tierra Andina, em Tilcara. Ele saiu de Florianópolis no Brasil para uma expedição pela América do Sul que já dura mais de dois anos. Vale a pena conferir nossa entrevista:
As Salinas Grandes, formam o terceiro maior deserto de sal da América do sul. Chamado também de “mini Uyuni” se tornou um ponto de encontro de acrobatas, músicos, mochileiros e de todos aqueles que se cansaram da antiga rotina sem sal da cidade
“El cierro de siete colores” colocou a Quebrada de Humahuaca no mapa. Viajantes do mundo inteiro vieram contar com seus próprios olhos as 7 cores que uma montanha só reunia. Anos depois, uma montanha de 14 cores, em Humahuaca tirou seu foco. Mesmo datada, a montanha de 7 cores impressiona e vale a viagem, de Tilcara a Purmamarca.
Purmamarca é um dos menores e melhores concervados vilarejos da Quebrada. Minha dica é o “Paseo de los colorados”que vai além do tour comum. Os cierros são incrivelmente coloridos, em vários tons de rosa, verde, vermelho e laranja. O vento é seco e a vegetação basicamente de arbustos e cactos. Purma conserva a arquitetura dos pueblos originários que viviam por lá e assim como Tilcara, oferece opções de hospedagem. Na feirinha você vai encontrar potes de cerâmica, comidas, casacos e mochilas da Bolívia