Degustamos, saudosamente, nosso último pão de queijo.
O carro lotado se destinava ao Espírito Santo e já no minuto 15 da estrada uma placa anunciou o fim de Minas. Nosso dia capixaba já tinha programação prévia. Conhecer a Marlene e Seu Claer, nessa ordem.
Marlene nasceu e foi criada em Iúna, onde é conhecida por seu tempero. Ela é quem sacia o desejo de Galopé da cidade, uma vez ao ano. Chegamos fora da estação do prato, mas pudemos imaginar, pela receita literal, o sabor da sopa de pescoço de galo com pé de porco. Depois do cafézinho descobrimos o Poço do Egito, uma atração em seu quintal de água verde e cristalina. Essa piscina, de tão gelada, nos transformou naqueles adultos, que desaconselham as crianças a nadar depois do almoço.
Seguimos para o Seu Claer, marido da Dona Lívia. Sua chácara é uma mistura de café com cana em plenos processos químicos. Aquele cheiro forte não parecia combinar com o pequeno menino que brincava silenciosamente em uma carreta. Seu nome é Santiago e tentamos, de diversas formas chamar a atenção daqueles olhos grandes. Quando estavamos quase desistindo, o Renato perguntou seu time. – Eu sou Palmeirense! Respondeu com tanta alegria, que até esqueci dos seus machucadinhos e marcas de tatuagem de chiclete no braço.
Lá, a venda do café torrado paga as contas, mas a paixão de Claer é seu alambique. Armazena diariamente, em garrafas de Coca-cola, sua cachaça branca pouco envelhecida e serve o resultado em um copo americano trincado. -Essa é só para os fortes. Anunciou Seu Claer enquanto observava atentamente nossa expressão a cada gole. Nosso esforço em manter a cara firme já valeu seu respeito.
Dona Lívia apareceu só depois que o sol se despediu, e me mostrou sua horta. Dividiu, depois de um dedin de prosa, sua receita de família. Bastaria uma xícara de chá de lavanda, todas as noites, para acalmar qualquer bebê. Percebi que era conselho bom depois de conhecer seus pés de couve, da minha altura.
Antes de voltar para nosso estado, Seu Claer sacou a sanfona naquele céu de São João e nós, dançamos. Em vinte minutos, a estrada de Minas deixou o galopé, a cachaça e o forró do Espírito Santo pra quando quisermos voltar.