Seu Dai nasceu no Capão e nesse Vale da Chapada Diamantina, todo mundo era um pouco garimpeiro.
Contou da vida nas tocas em uma época que se fazia uma caverna na montanha de casa. Lá o fogão era fogueira, o chuveiro cachoeira e a tv, um radinho de pilha. Uma vez por semana um garimpeiro da família era escolhido para descer toda a trilha até Seabra, vender alguns pequenos diamantes e fazer uma bela feira. A única motivação para retornar era a promessa de mudar de vida ou uma bela refeição com tatu assado.
Seu Dai nunca viu onça mas sabe que tem, a do lombo preto, não a grandona pintada. Sabe por já ter sentido o bafo e pelas vezes que seus cachorros entraram na toca com o rabo entre as pernas. O maior diamante que ele já encontrou tinha seis quilates e rendeu um bom negócio fechado alguns dias antes de se saber que o garimpo seria proibido.
O povo só falava nisso e Seu Dai, na época, só Dai, foi para São Paulo. Trabalhou por anos em uma pastelaria que fica em frente a estação da luz e é comandada por um casal de chineses. Viu que a ganancia também era o combustível da capital e seis por meia dúzia valiam mais no Capão. Voltou e fez seu nome. O primeiro da região a dirigir um carro próprio. E ele ainda está lá, estacionado. Uma imensa caminhonete laranja com histórias empoeiradas na caçamba.
Sua geração foi a última do garimpo pois quando seu filho nasceu já não podia. Não pode procurar, mas se algum diamante tiver restado na trilha é ele quem vai encontrar. Inevitável herança de uma família que abriu muitos caminhos e batizou cachoeiras, como a da purificação.
Lá no camping, Seu Dai separou por três dias uma jaca dura para me mostrar, a melhor que há. Mas foi devorada todas as vezes, antes do meu retorno. Foi assim que ele decidiu me ensinar a arte de encontrá-la sozinha, guiada pelo som de batidinhas na casca. Autonomia suficiente para seguir meu caminho sem medo de jaca verde.