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Tony’s Chocolonely, o chocolate com propósito de Amsterdã

Tempo de leitura: 4 minutos
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Foto: Tony Chocolonely

Branco, ao leite ou meio amargo, todo mundo tem um preferido. E até quem para aqueles que não poderiam sentir tamanho prazer, foram criadas versões veganas, zero lactose e zero açúcar do cremoso chocolate. Seja qual for a sua escolha, é difícil encontrar quem não tenha lembranças de infância relacionadas a esta iguaria na versão de bolos, sorvetes ou barras. 

Porém, uma empresa holandesa de chocolates serve um sabor provavelmente ainda desconhecido: o chocolate 100% livre de mão de obra escrava. Para conhecer essa iniciativa, desembarcamos da estação Centraal de Amsterdã e seguimos por aproximadamente 400 metros. 

A loja fica na região mais transitada da cidade, e é toda colorida e instagramável. Em seu café, são servidos desde suculentos bolos de chocolate até cappuccinos e achocolatados. O cardápio da loja começa a abordar alguns dos valores e um pouco da missão que envolve esse alimento. Mas o grande impacto fica no subsolo da loja, construída em uma tradicional casa holandesa. 

Vídeo: @solanomundo

Ao descer algumas escadas, uma fábrica de chocolates em miniatura se apresenta. E basta puxar alavancas espalhadas, para fazer cair amostras grátis dos diferentes chocolates da loja. Totens com iPads criam filas para a participação da lúdica atividade de montar sua própria barra. Com esta função, o cliente pode escolher as cores da embalagem, um nome para a etiqueta e ainda a cobertura, que varia de caramelo salgado até frutas vermelhas.

Porém, os painéis espalhados por cada uma das etapas chamam atenção de um jeito diferente. Neles são contadas histórias de jovens e adultos que passaram a maior parte de sua vida trabalhando em plantações de cacau, em condições análogas a escravidão. Um deles era Bebè, de 15 anos. E o painel continha a seguinte frase “As vezes sonho em ser jornalista. Assim você pode viajar o mundo e contar histórias e coisas que as pessoas não sabem”. Então faremos isto por Bebè, ao contar um pouco sobre como funciona realmente a produção do chocolate. 

De onde vem a matéria-prima do chocolate? 

Foto: Tony’s Chocolonely

Este alimento que já foi considerado sagrado pelos povos originários da América Central, concentra hoje 60% da sua produção na África Ocidental. Esta cadeia produtiva que envolve empresas globais guarda segredos amargos, entre eles, o uso de trabalho infantil ilegal e escravidão moderna.

Tudo começa com os agricultores que cultivam, colhem, fermentam e secam os grãos de cacau. Eles trabalham em milhões de fazendas de Gana e Costa do Marfim, entre eles menores de idade e com condições análogas a escravidão. O valor (baixo) que recebem por quilo, depende do governo dos dois países e dos preços globais do cacau.  

Os comerciantes transportam os grãos até os portos da África Ocidental e, de lá, são levados para Europa. O cacau chega em pilhas, sem certificação, e 70% dos grãos é processado pela multinacional Barry Callebaut e pela americana Cargill Incorporated. O produto é então transformado em barras, coberturas e pó de cacau, e vendido para bilhões de consumidores ao redor do mundo. Estas empresas exercem pressão para manter o custo de sua matéria-prima baixo, o que gera uma catástrofe humanitária. 

As agricultoras da África Ocidental ganham ainda menos

Foto: Mulheres agricultoras por Tony’s Chocolonely

Assim como nas grandes cidades, o patriarcado afeta também as plantações de cacau na África Ocidental. Nesta região, as agricultoras de Gana e Costa do Marfim podem ganhar de duas a três vezes menos do que seus colegas homens. E para completar o cenário, estes colegas já vivem abaixo da linha da pobreza.

Para mudar esta realidade, a rede de parceiros que luta pelo fim da exploração no ciclo do cacau tem algumas soluções mapeadas. Entre elas, a de desenvolver um plano de ação para abordar abusos trabalhistas e de direitos humanos, assim como incluir a implementação de leis e regulamentos internacionais relevantes — convenções existem, mas acabam não sendo aplicadas.

Segundo a holandesa Tony’s Chocolonely, empresas devem ser legalmente obrigadas a ser transparentes sobre sua cadeia de suprimentos e explicar o que estão fazendo para prevenir a escravidão e o trabalho infantil.

Parceiros da Tony’s Chocoloneys por um chocolate mais doce

Foto: Romeu Teme por Tony’s Chocolonely

Romeu Alvaris Wohi Teme é gerente da ECOJAD, empresa responsável pela certificação de projetos com o Sistema de Monitoramento e Remediação do Trabalho Infantil. Ele acredita que medidas de urgência podem ajudar a mudar as condições dos produtores de cacau, mas que primeiro, é necessário identificar os casos

“As condições de vida das pessoas está mudando. Mais e mais agricultores estão abrindo contas bancárias e não precisam pedir empréstimos à cooperativa. Também estamos trabalhando arduamente para reduzir o trabalho infantil” contou Romeu Teme, para Tony’s Chocolonely.

Assim como Romeu, outros parceiros ao redor do mundo que lutam pela causa tiveram suas histórias contadas no projeto Reframed

Raquel Cintra Pryzant
Raquel Cintra Pryzant
Raquel Pryzant, jornalista de viagem brasileira vivendo em Barcelona.