“Tínhamos dificuldade de encontrar os livros que a gente buscava, e então decidimos abrir nossa própria editora”
Oumar Diallo
O senegales Oumar Diallo vive há mais de 25 anos na Catalunha, mas o que nunca pôde aceitar era o pouco que se falava sobre África na produção cultural em castelhano e catalão existente.
Assim nasceu a Wanafrica, e as mais de 30 publicações de temáticas antirracistas, traduções de autores africanos e sobre África, além de publicações revolucionárias, que abordam temas como feminismo e a luta de imigrantes.
Com o objetivo de trabalhar como força de transformação frente a oferta editorial eurocêntrica, a publicação de literatura afrocentrada à partir de 2014 foi o princípio de um movimento muito maior.
Outros pensadores africanos e imigrantes de diferentes culturas começaram a juntar-se e novos projetos surgiram a partir de colaborações e ajuda mútua.
“A Panafricana é uma livraria especializada em literatura de temática africana e de imigrações”
Oumar Diallo
Todos estes livros que gritavam liberdade tinham um espaço físico há poucos meses. Se tratava da livraria La Panafricana, que abriu suas portas em 2019. Basta atravessar “La Boqueria”, o mercado mais conhecido de Barcelona, e virar um par de ruas para encontrar a vitrine onde ficavam expostas as publicações da editora Wanafrica, mas também de outras editoras do mundo todo.
A loja neste endereço foi fechada há poucos meses, e segundo o comunicado oficial da livraria em suas redes sociais, eles não vendiam o suficiente para pagar o aluguel e foram despejados.
Oumar Diallo e toda a comunidade que se formou a sua volta estão planejando os próximos passos para uma reabertura em um novo endereço. Mas a Panafricana e a editora Wanafrica sempre foram muito maiores que um espaço físico.
“A escolha do nome La Panafricana não veio apenas da busca por uma unidade política de toda a África, é sobre estar unidos e encontrar a nossa força em qualquer lugar do mundo”
Oumar Diallo
Mesmo com escassos quatro anos de existência, a livraria Panafricana já tinha se convertido em algo muito maior que uma biblioteca revolucionária. Era a sede de rodas de conversas antirracistas, encontros de poesia, exposições de arte e saraus de música.
Ao mesmo tempo que compartilhava sobre as diferentes culturas do continente africano para o público espanhol, o espaço era valioso para a comunidade -que finalmente podia se reconhecer na produção cultural efervescente que estava sendo realizada.
Nas paredes do espaço-livraria era possível encontrar a biografia de Frantz Fanon, Thomas Sankara, Patrice Lumumba, Kwame Nkrumah, Amílcar Cabral e muitos outros panafricanistas e importantes líderes revolucionários dos processos de independência das ex-colônias africanas.
E entre tanta força e tanta história de luta é que aconteciam eventos periódicos que movimentavam os novos pensadores da comunidade.
O livro infantil ilustrado African-Meninas é uma das últimas publicações da editora Wanafrica. A autora Karo Miranda é uma historiadora afrocubana, e junto com as ilustradoras Sara Fratini, Ana Cebrián e outras mulheres colaboradoras lançaram este projeto transformador.
A partir do questionamento de ‘’quantas referências femininas de afrodescendentes podemos nos lembrar em nossa infância?’ foram reunidas biografias de 30 mulheres africanas que marcaram a história em múltiplas disciplinas y contextos.
Segundo as criadoras do projeto, além de apresentar referências africanas que o pensamento ocidental vêm apagando, o livro tem um poder gigante quando apresentado as crianças a partir de 3 anos.
Os meninos e meninas terão como referência grandes mulheres que os adultos de hoje não tiveram. Histórias como as de Anna Nzinga, Wangari Muta Maathai e Nana Asma’u ilustradas no livro tem o potencial de ajudá-los a entender que podem ser líderes mesmo com os impedimentos das sociedades estruturalmente racistas.