Quem me ensinou a arte da “pizza al paso” foi Xequiel, um portenho que viaja em sua própria cidade.
Passamos uma tarde caminhando sem parar e mesmo desbaratinada entre as cores, pessoas e letreiros o segui. Sua caçada era por alguma novidade entre ruas familiares. Além do mapa da cidade, Xequiel tinha muito da história de Buenos Aires na cabeça.
Já em Recoleta, passamos pelas pizzarias mais famosas da Av. Corrientes: Guerrín, Las Cuartetas e El Palacio de la Pizza, mas só paramos depois de alguns quarteirões. Em um letreiro antigo, o nome “El Cuartito“ nos fez apressar o passo.
“Nós herdamos a pizza da Itália, mas em Buenos Aires nosso estilo é diferente da Europa. Todo mundo aqui acredita que a pizza porteña é a melhor do mundo”, contou orgulhoso. Retruquei:
-Esse título é do meu povo. Em São Paulo dizemos o mesmo.
Naqueles dias, o clima de competição atravessava o mundo gastronômico. Estavamos em plena Copa do Mundo da Rússia, ou “en el Mundial 2018“. Onde todos os estabelecimentos tinham balões azuis e brancos.
Ao entrar no El Cuartito, no tempo técnico do jogo da Bélgica, pude perceber que a paixão do futebol já estava lá muito antes e lá ficaria, depois que eu fosse embora.
As paredes celestes tem bandeiras, camisas e fotos de grandes craques argentinos. Heróis do futebol levemente empoeirados. Cantores folclóricos e bandas de outros tempos também conquistaram um espacinho, naquela parede formada com o tempo.
Sentamos e pedimos uma pizza, que é servida em pedaço, em “porción“. Mas a ideia dessa pizza em pedaço é comer no balcão mesmo, “al paso“, de pé e com pressa.
A massa grossa e bem recheada vai bem com uma cerveja Quilmes, que seria, talvez, a nossa Skol. Os sabores variam e podem levar jamón, mussarela, verdura ou pimentão. A pizza fugazza, que eu nunca tinha visto antes, se trata de muita cebola e parmesão.
A gorgeta se chama “propina” e não vem na conta. Já o garçom se chama “mozo” ou o famoso “campión“.