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Buenos Aires é uma cidade grande e apressada como São Paulo. Mas embaixo das LEDs e buzinas, dos canos e da terra, um trem mágico faz tremer os trilhos.
Seu nome é Subte e logo ficamos amigos. Ele me levava para todo canto enquanto lá fora chovia. A cada parada, dizia o nome de um bairro novo, até me sugerir San Telmo na estação de San Juan.
Subi. Já na superfície reparei em tudo que eu podia ler em fileteados. Mas pela primeira vez, a tinta estava fresca
Entrei no mercado. Em outro século
Um homem bem vestido comprava flores. As mulheres de cabelos bem presos passavam por mim cobrindo o colo com lenços sóbrios.
Todos estavam de mudança. Mesmo que com apuro, me contaram sobre a ida para o norte. A tal da febre pegaria quem ficasse por lá.
Me contaram que o bairro de San Telmo nunca mais seria o mesmo depois da maldição de 70.
Segui caminhando até a primeira casa, da primeira esquina em que fui convidada a entrar. Depois da imensa porta de madeira maciça, perguntei pro açougueiro, que dançava tango com o alfaiate, no pasillo de mosaico:
-E vocês, pra onde vão?
-Já chegamos, acredite. Para aqueles que cruzaram o atlântico e vivem num cômodo só, uma febre não é nada.
Saí de lá sem rumo, chamei o meu amigo. A pequena escada para o subterrâneo apareceu.
Cada degrau deixava San Telmo mais distante. De volta ao Obelisco, entre carros e celulares respirei e disse “casa”, mesmo na Argentina.
