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Em busca do Ftira, o pão maltês patrimônio da humanidade

Tempo de leitura: 2 minutos
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Farinha, levedura, água e sal como em qualquer padaria, mas cozido nos mesmos fornos de lenha de alta temperatura desde o século XVI.


O aroma de pão fresco nas ruas da cidade de Qormi sai das pequenas janelas das padarias familiares. Dentro, trabalham lado a lado com o avô e neto, moldando a massa fermentada no seu formato redondo típico em forma de rosca. A confecção artesanal do pão Ftira é, desde 2020, patrimônio cultural intangível pela UNESCO. O motivo? É uma tradição viva que se manteve quase intacta durante décadas, embora suas combinações com novos sabores a tenham modernizado.

Malta é uma ilha que se tornou independente em 1964. Ou seja, praticamente ontem do ponto de vista histórico. Além dos árabes e romanos, os ingleses, franceses e espanhóis também misturaram sua cultura gastronômica com os produtos do país. Por isso, é impossível encontrar um prato exclusivamente maltês. No entanto, escolher um que simboliza Malta é fácil. É um pão Ftira acabado de sair do forno a lenha.

A história do Ftira começa no século XVI, em uma ilha governada pela Ordem dos Cavaleiros de São João. Naquela época, por necessidade, os padeiros inventaram uma forma de assar que utilizava muito menos lenha e resultava ser três vezes mais rápida que a maneira tradicional. Assim nasceu um pão achatado, irmão maltês da coca, mas redondo e com um buraco no centro.

Foto: Juan Jabares

O Dr. Noel Buttigieg, membro do Instituto de Turismo e Cultura de Malta, é uma referência nacional nos estudos sobre a gastronomia maltesa. Nos últimos vinte anos, concentrou-se na cultura de padeiros mediterrânica, mais concretamente no pão Ftira. Com a coleta das assinaturas de centenas de padeiros ao redor da ilha, o Dr. Noel liderou a candidatura para que o pão maltês entrasse no Olimpo da UNESCO, algo que conseguiu em 2020 pelo peculiar e ancestral de sua elaboração.

Segundo o professor, o Ftira é o único pão em Malta que é fabricado à mão e que, atualmente, não tem elevados níveis de mecanização. Além da característica artesanal deste pão, a nomeação da UNESCO deve-se a todas as ferramentas e utensílios melhorados através de gerações, e a adaptabilidade de uma tradição. O processo de confecção destes pães redondos contém ensinamentos transmitidos como herança de geração em geração. E a flexibilidade se concentra no recheio, que tem misturado diferentes sabores com o tempo, entre as mesmas fatias de pão.

“A aplicação do ‘Ftira making’ na UNESCO procurou celebrar o que somos hoje, as novas maneiras de comer o Ftira e os diferentes ingredientes que fazem parte dessa história”, comenta o Dr. Noel Buttigieg.

A maneira tradicional de servir o Ftira leva ingredientes simples e bastante mediterrâneos como o azeite, cebolas, alcaparras, azeitonas, conservas de tomate e atum. Mas desde as barracas de comida de rua do centro de La Valeta até os menus dos famosos restaurantes é possível experimentar outras versões do sanduíche de Ftira. As novas combinações podem levar carnes, salmão fumado, e até Nutella, a preferida das crianças.

Raquel Cintra Pryzant
Raquel Cintra Pryzant
Raquel Cintra Pryzant é editora do portal de viagem e gastronomia Sola no mundo desde 2017. Com mestrado na Espanha e experiência internacional, já colaborou com veículos como National Geographic, BBC, CNN, Skyscanner e mais